15 Jan - 16 Fev 2013
Paulo Climachauska
A série Catedral, apresentada em Fluxo de Caixa, é composta de quatro telas malevichianamente brancas, de grandes dimensões, com imagens de galpões industriais que armazenam commodities. O elemento geométrico mínimo é o cubo, modulado para criar, com linhas pretas que se encontram em ângulos retos, a imagem que parece feita por computador. Ao chegar perto, observamos que esses depósitos, apesar de adotarem a ilusão perspectiva e terem tamanho quase natural, são, na verdade, pequenos números, escritos à mão. O depósito industrial é a gestalt desse conjunto de algarismos. Os números são não exatamente o fundo, mas a infraestrutura da figura – como da sociedade dominada por commodities que formatam o mundo contemporâneo em mercadoria.
O cubo, quando ganha função social, passa a se chamar caixa. A distância entre um e outro é aquela entre a abstração geométrica e a figuração. Esses dois lados que a história da arte opõe estão juntos em Catedral. Mais do que isso: a caligrafia de números faz da imagem, conceito. Mas o conceito não corresponde a ela, ao contrário do que ocorre no caligrama. O depósito industrial, lugar de acúmulo, significa o oposto da subtração. A catedral é o galpão, mas ela é feita de subtração. O número diminui, algarismo a algarismo, para fazê-la aumentar.
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